segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Olhar de 5 anos


Embora o que nos rodeia seja igual para todos, o certo é que cada um de nós tem uma visão própria do mundo. Eu posso dar valor a determinada coisa e a pessoa ao meu lado a outra completamente diferente. Eu posso dar mais importância a uma flor e outra pessoa, no mesmo contexto, pode sentir-se deliciada com o inseto que vive ou se alimenta da mesma.

Se numa praça cheia de gente entregássemos uma máquina fotográfica a todos, certamente ficaríamos surpreendidos com os resultados que apresentassem. Cada pessoa entregaria o seu olhar, aquilo que mais lhe chamou à atenção.

Com estas e outras ideias em mente, há dias, quase sem querer, levei a cabo a "experiência" que andava a pensar fazer há algum tempo.

Convidei a minha filha a ir fotografar comigo. Não só poderia usufruir da sua companhia (e ela da minha), como teria a ocasião perfeita para ver no que a minha experiência resultaria.

Ela, como todas as crianças, gosta de imitar o que fazemos. Logo, convidá-la para algo que ela me vê fazer com frequência só poderia ter sucesso na resposta.

Emprestei-lhe uma Canon 400D com a objetiva do kit, 18-55mm (cortesia do meu irmão que me emprestou a mesma para outros objetivos). Para o que pretendia chegava e sobrava. Nem seria preciso tanto, mas era o que tinha à mão...

A ideia inicial era colocar a máquina totalmente automática. Mas, no caso e à hora a que me propus fotografar, já relativamente tarde, o flash entrava sempre em ação. Passei pelo modo 'P', mas arrisquei (embora de forma calculada) a Prioridade à abertura.

Entreguei-lhe a máquina e disse-lhe que podia fotografar o que quisesse e da forma que desejasse. Eu não iria fazer nada, nem sequer dar sugestões. A única coisa que fui controlando (embora nem sempre fácil) foi a velocidade, já que a luz, ao final do dia, desaparece muito rápido.

Ainda apanhámos o pôr do sol e acabámos o dia, ou iniciámos a noite, junto a umas ovelhas, que eu aproveitei também para fotografar e que depois deixo aqui o resultado.

Por esta altura já ela tinha uns quantos registos. Mas, depois, não só não tinha objetiva/máquina para o escuro que já estava, como se fartou de tantos minutos a fotografar e porque queria "conhecer" melhor as ovelhas.

Guardei a máquina e a curiosidade apoderou-se de mim. Enquanto não descarregasse as fotografias para o computador não teria descanso.

Ao longo desta aventura/experiência fui fotografando a minha filha em ação. E, curiosamente, adotou algumas posições, corretas, para fotografar, que não costumo usar. Ou seja, não me imitou, seguiu o seu próprio instinto. Fiquei agradavelmente surpreendido...

Finalmente, quando abri as imagens no computador, outra surpresa. Positiva. Aliás, muito positiva.

A minha filha tem cinco anos. Nunca lhe expliquei nada de fotografia. Somente seguiu o seu olhar. Aquilo que a atraía. E, mesmo assim, conseguiu algumas imagens interessantes.

Sim, também tinha lá umas quantas tremidas, outras muito tremidas, outras tortas. Não podia pedir mais, mesmo se fossem todas assim.

Só que, no geral, estavam com enquadramentos e composições mais ou menos equilibradas. Com algum sentido estético. Contudo, não vou colocar aqui todas as imagens que saíram bem da máquina, mas decidi que duas mereciam ilustrar o que acabei de escrever.

Aqui ficam dois olhares de uma menina com cinco anos. A primeira ilustra uma silhueta ao pôr do sol e a segunda ovelhas. Sim, está tremida - tem lá uma ou outra que não estão -, mas acabei por selecionar esta porque a acho diferente e que não fica atrás de tantas outras imagens que se veem por essa Internet fora e que até merecem algum tipo de destaque, ou prémio.

Sorte? Sim, também pode ter havido. Mas, de qualquer forma, estes olhares são de uma criança e ver, olhar com sentido estético, é algo que se pode treinar, mas também nascer connosco. Será que é o caso? Não sei, mas como todo o pai babado, espero que sim...

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