Aviso já que este texto pode tornar-se aborrecido, em parte ou no seu todo. Depois não digam que não avisei. Ok, tem coragem para continuar a ler? Boa sorte.
Às vezes tenho pena das minhas
fotografias. Não são excelentes, mas também não são tão más ao
ponto de ter pena delas. Às vezes...
Vou reformular. Tenho pena de algumas
delas. Como tinha dos (poucos) pássaros que tive em miúdo. Sempre
fechados, com tanto mundo por conhecer.
E assim acontece com algumas das
imagens que registo com a minha máquina fotográfica. Depois de
copiadas do cartão de memória para o computador, passam pela edição
e depois ficam enclausuradas num qualquer canto do disco. Parte do
prazer de fotografar fica também ali, guardado, prisioneiro.
Esta talvez seja a grande diferença
entre o tempo do analógico e do digital. As máquinas evoluíram,
são capazes de coisas extraordinárias e toda a gente anda com uma
ao pescoço, ou no bolso. Mas, agora, a maior parte das fotografias
passam a um amontoado de zeros e uns, de bits e bytes. Que pena.
Mesmo que ao longo dos últimos anos
tenha mandado imprimir algumas fotografias, em papel avulso, em
álbuns, ou livros, com destino para mim, ou para oferecer, continuo
a sentir-me mais como um guarda-prisional do que fotógrafo.
Sempre que posso vou tentando mostrar
algumas ao mundo, nem que seja o virtual. Talvez sirva apenas como
terapia. Mas é melhor do que nada e sei bem que os há ainda pior,
que registam e guardam para si tudo o que sai do cartão da câmara,
numa espécie de prisão perpétua para as fotografias que tiram.
Mas nada substitui o prazer de ver uma
foto livre, impressa. De preferência bem impressa. E,
preferencialmente, muitas, para o prazer durar tanto como comer um
Magnum. Ou parecido...
Com tudo isto em mente resolvi fazer
uma cópia de segurança a um pequeno número de fotos que tenho. Sei
que devia fazer a todas, mas a capacidade do disco que usei é
limitada. Ou antes, fui eu que a limitei propositadamente. Ao ficar
com outras tantas fotos por arquivar, estou simplesmente a prolongar
o prazer de as rever e de as enviar para novo disco.
Mas, afinal, este tipo fala em
impressão e em libertar as imagens do disco e depois fala em cópias
de segurança em discos de capacidade limitada?! - pensarão alguns.
Foi apenas uma pequena brincadeira, só
para confundir mais um pouco e para tornar este texto ainda maior e
mais aborrecido. Eu avisei...
Com tudo o que anteriormente referi em
mente, resolvi imprimir um pequeno número de fotos que tenho, que
fui fazendo nos últimos anos. Queria voltar a ter o prazer de ver as
minhas imagens em algo que não tivesse que ligar à corrente, ou
carregar a bateria. Queria sentir a textura, ver os pormenores e
poder mostrar aos amigos.
Com isto em mente, resolvi imprimir
algumas das minhas fotografias num livro. Em papel. Daqueles que se
abrem com as mãos. Que pesam nas mesmas. Que têm cheiro. Que fazem
som ao folhearmos. Que se descolam, que se sujam, que se dobram.
Agora vou começar a minha cruzada e
tentar libertar aos poucos mais e mais fotos que gritam de dentro dos
discos onde estão aprisionadas. Quero encher a minha casa com
fotografias. Ou encher a casa de familiares. Ou de amigos. Ou
passá-las para livro.
Bem, tudo isto para vos dizer que aqui
está ele, um dos últimos livros que imprimi no serviço Blurb
(www.blurb.com), um dos melhores
do género. Não é caro, tem qualidade, é rápido. E ficou bonito.
Pelo menos para mim que, afinal, é o que (ou a quem) interessa.
Assim livres, estas minhas fotografias
podem ser admiradas quando eu bem entender. Posso viajar no tempo até
ao tempo em que as fiz. Posso reviver cada momento, cada pôr do sol,
cada luz, cada amanhecer. Se continuassem guardadas no disco, o mais
provável era nunca mais me cruzar com algumas delas, de me lembrar
que existem. O que era uma pena...
Caríssimo, que as tuas palavras sejam um incentivo ao início do Movimento "soltem as fotografias"!
ResponderEliminarPorque de facto, elas devem sair ao mundo.
Senão corremos o risco de nos tornarmos todos umas Vivian Maier! Se bem que a histórioa dela é misteriosamente maravilhosa... http://www.vivianmaier.com/
Abraço!
p.s.: parabéns pelo livro!