terça-feira, 24 de abril de 2012

Libertar as fotografias



Aviso já que este texto pode tornar-se aborrecido, em parte ou no seu todo. Depois não digam que não avisei. Ok, tem coragem para continuar a ler? Boa sorte.

Às vezes tenho pena das minhas fotografias. Não são excelentes, mas também não são tão más ao ponto de ter pena delas. Às vezes...

Vou reformular. Tenho pena de algumas delas. Como tinha dos (poucos) pássaros que tive em miúdo. Sempre fechados, com tanto mundo por conhecer.

E assim acontece com algumas das imagens que registo com a minha máquina fotográfica. Depois de copiadas do cartão de memória para o computador, passam pela edição e depois ficam enclausuradas num qualquer canto do disco. Parte do prazer de fotografar fica também ali, guardado, prisioneiro.

Esta talvez seja a grande diferença entre o tempo do analógico e do digital. As máquinas evoluíram, são capazes de coisas extraordinárias e toda a gente anda com uma ao pescoço, ou no bolso. Mas, agora, a maior parte das fotografias passam a um amontoado de zeros e uns, de bits e bytes. Que pena.

Mesmo que ao longo dos últimos anos tenha mandado imprimir algumas fotografias, em papel avulso, em álbuns, ou livros, com destino para mim, ou para oferecer, continuo a sentir-me mais como um guarda-prisional do que fotógrafo.

Sempre que posso vou tentando mostrar algumas ao mundo, nem que seja o virtual. Talvez sirva apenas como terapia. Mas é melhor do que nada e sei bem que os há ainda pior, que registam e guardam para si tudo o que sai do cartão da câmara, numa espécie de prisão perpétua para as fotografias que tiram.

Mas nada substitui o prazer de ver uma foto livre, impressa. De preferência bem impressa. E, preferencialmente, muitas, para o prazer durar tanto como comer um Magnum. Ou parecido...

Com tudo isto em mente resolvi fazer uma cópia de segurança a um pequeno número de fotos que tenho. Sei que devia fazer a todas, mas a capacidade do disco que usei é limitada. Ou antes, fui eu que a limitei propositadamente. Ao ficar com outras tantas fotos por arquivar, estou simplesmente a prolongar o prazer de as rever e de as enviar para novo disco.

Mas, afinal, este tipo fala em impressão e em libertar as imagens do disco e depois fala em cópias de segurança em discos de capacidade limitada?! - pensarão alguns.

Foi apenas uma pequena brincadeira, só para confundir mais um pouco e para tornar este texto ainda maior e mais aborrecido. Eu avisei...

Com tudo o que anteriormente referi em mente, resolvi imprimir um pequeno número de fotos que tenho, que fui fazendo nos últimos anos. Queria voltar a ter o prazer de ver as minhas imagens em algo que não tivesse que ligar à corrente, ou carregar a bateria. Queria sentir a textura, ver os pormenores e poder mostrar aos amigos.

Com isto em mente, resolvi imprimir algumas das minhas fotografias num livro. Em papel. Daqueles que se abrem com as mãos. Que pesam nas mesmas. Que têm cheiro. Que fazem som ao folhearmos. Que se descolam, que se sujam, que se dobram.

Agora vou começar a minha cruzada e tentar libertar aos poucos mais e mais fotos que gritam de dentro dos discos onde estão aprisionadas. Quero encher a minha casa com fotografias. Ou encher a casa de familiares. Ou de amigos. Ou passá-las para livro.

Bem, tudo isto para vos dizer que aqui está ele, um dos últimos livros que imprimi no serviço Blurb (www.blurb.com), um dos melhores do género. Não é caro, tem qualidade, é rápido. E ficou bonito. Pelo menos para mim que, afinal, é o que (ou a quem) interessa.

Assim livres, estas minhas fotografias podem ser admiradas quando eu bem entender. Posso viajar no tempo até ao tempo em que as fiz. Posso reviver cada momento, cada pôr do sol, cada luz, cada amanhecer. Se continuassem guardadas no disco, o mais provável era nunca mais me cruzar com algumas delas, de me lembrar que existem. O que era uma pena...

1 comentário:

  1. Caríssimo, que as tuas palavras sejam um incentivo ao início do Movimento "soltem as fotografias"!
    Porque de facto, elas devem sair ao mundo.
    Senão corremos o risco de nos tornarmos todos umas Vivian Maier! Se bem que a histórioa dela é misteriosamente maravilhosa... http://www.vivianmaier.com/

    Abraço!

    p.s.: parabéns pelo livro!

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