quarta-feira, 18 de abril de 2012

A minha primeira máquina digital



Foi a loucura total. Foi a loucura quando um amigo, que trabalhava na então Singer, me telefonou a dizer que a minha encomenda tinha chegado. Estávamos em Fevereiro de 1999 e acabava de gastar 212 contos(!) numa máquina digital, uma Sony Mavica FD-91.

Ou seja, foram várias loucuras ao mesmo tempo...

Lembro-me que não descansei enquanto não a fui levantar. Saí do trabalho quase sem tocar os pés no chão. O carro parecia que tinha começado a andar de marcha-atrás, tal o tempo que levei a chegar à loja. Depois vi a caixa e foi muita emoção junta.

Não acredito que hajam muitas pessoas, hoje, que fiquem indiferentes quando compram algo novo, principalmente quando falamos de tecnologia.

Imagine-se em 1999 - não está assim tão longe, mas parece que foi há uma eternidade -, quando as máquinas fotográficas digitais começaram a fazer parte dos sonhos de muita gente. Eu incluído, claro.

Na altura, os profissionais da fotografia ainda não podiam olhar para uma digital como ferramenta de trabalho. Eram muito limitadas e ainda pouco evoluídas.

Eu não era profissional da fotografia, mas precisava de uma máquina que me permitisse alguma flexibilidade para um projeto que estava a desenvolver. E este foi a desculpa perfeita para ter o último grito da tecnologia. No caso, um dos primeiros gritos...

Depois de semanas a avaliar duas ou três máquinas em questão, achei que a Sony Mavica FD-91 tinha muito estilo. Está bem, era quadradona, mas na altura não havia nada no digital que em aspecto rivalizasse com uma máquina profissional. A não ser, claro está, a Mavica.

Esta foi a razão n.º 1. Depois foi o facto de gravar as imagens em... tcham, tcham, tcham...

DISQUETES!!

Era a loucura total, outra vez!!

As drives de disquetes estavam presentes em todos os computadores, as disquetes vendiam-se em tudo o que era loja e lojinha e eram polivalentes. Formatava-se e estavam prontas para nova carrada de fotografias. Embora carradas seja um pouco exagerado. Como um pescador que pescou um peixe deste tamanho... estão a ver?!

Mas a minha Mavica FD-91 tinha outros atributos que, para mim, na altura, se sobrepunham aos defeitos. Tinha 'steady shot', o que era excelente quando fazia zoom. Ou seja, tinha objetiva estabilizada. Era o IS, VR, OS e afins dos dias de hoje.
Dava para definir o balanço de brancos. Limitado, mas dava. Permitia focagem manual e para compensar a exposição. Limitado, mas dava. Tinha flash incorporado e permitia fazer leitura com 'spot meter'. Limitado, mas funcionava. E permitia gravar vídeos. Limitadíssimos, mas dava. E, claro, dava para fotografar. Limitada, mas deu para muitos anos ainda.

Mas o mais espetacular era o ecrã rotativo. Quando me queria exibir, bastava colocar-me numa posição mais acrobática, rodar o ecrã, e disparar. As pessoas ficavam fascinadas. Era a loucura total.

Hoje referimo-nos a este género de ecrã como sendo algo do outro mundo. Pois bem, a minha Mavica, velhinha, de 1999, já tinha um. Embrulhem!

Depois era a própria máquina que chamava à atenção. Era imponente, tinha muitos botões e tinha um ar... profissional. Onde quer que eu estivesse, se levasse a máquina era o centro das atenções. A máquina, claro, que eu passava a ser apenas o tipo que a transportava.

Foram anos felizes com a minha Mavica. Foi comigo para lua de mel e fez furor. Mais uma vez. Ainda hoje me rio das mais diversas situações que com ela passei.

Emprestei-a a familiares durante alguns anos, até que ma devolveram. Estava num saco, encostada num armário, sem qualquer serventia. Ainda bem que ma devolveram. Nunca me esqueci dela e, mais uma vez, foi a loucura total revê-la.

Com pouca esperança coloquei a carregar a bateria. Junto a ela estavam algumas disquetes. A bateria carregou. Boa!

Liguei e máquina e... funcionou!!! Foi mais uma loucura. Não com a mesma emoção da primeira vez - a primeira é sempre única -, mas ali estava ela, viva e a funcionar.

Lamentavelmente só o ecrã LCD é que não dá sinais. Funciona o óculo, mas não é a mesma coisa. Já não poderei tirar fotografias acrobáticas. Mas também as minhas costas já não são o que eram em 1999.

E, quando hoje se fala e escreve tanto sobre os megapixéis das mais recentes máquinas, querem saber a real capacidade do sensor (minúsculo) desta minha primeira máquina digital?

Uns impressionantes... 0.7 megapixéis. Sim, "impressionantes"! A minha Canon 5D MK II só tem mais uns vinte e tais megapixéis. Mas na altura, em 1999, foi uma loucura. Pelo menos para mim...

Hoje serve para mostrar a amigos. Para viajar no tempo e para escrever textos patetas como este. Mas foi a minha primeira máquina digital. E, como todos sabemos, a primeira nunca ninguém esquece!

Já agora, aqui fica link para o dpreview, onde podem ler a análise feita na altura à Sony Mavica FD-91.

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